segunda-feira, 28 de março de 2011

Profissionais da informação e as competências necessárias à atuação profissional no século XXI

No dia 12 de março, comemoramos o dia do bibliotecário. Houve muitas celebrações e encontros para debater as questões profissionais. Ao participar da mesa redonda promovida pela Biblioteca da Presidência da República, em Brasília, tendo a Dra. Maria Tereza Machado Teles Walter como moderadora, e a presença dos bibliotecários Patrícia Coelho Ferreira Meneses da Silva, Adelaide Ramos Corte, Dr. Cristian José Oliveira Santos e o professor da Faculdade de Ciência da Informação,  Dr. Jayme Leiro Vilan Filho, discutimos sobre o conhecimento na sociedade contemporânea, em especial em tempos de web 2.0. O evento foi bastante frutífero e, certamente, sensibilizou os participantes sobre a necessidade da formação continuada ao longo da vida.
             Em minha opinião, a primeira pergunta a se fazer no contexto atual é: qual a importância do profissional que sabe organizar e disseminar informações na sociedade atual, bem como ensinar as competências necessárias para as pessoas lidarem com a informação?
Nesse sentido, o título da mesa redonda, "o conhecimento não ocupa espaço",  é bastante instigador por explicitar a natureza do conhecimento, cujo limite depende da capacidade cerebral humana e da consciência. Existe a percepção intuitiva da ausência de limites do conhecimento, o que remete ao processo contínuo de informa-se e conhecer, ou seja ao processo de formação.
Formação diz respeito ao processo de desenvolvimento contínuo para a aquisição de conhecimentos, atitudes e competências gerais. De acordo com Imbernon (1994), a formação inicial refere-se à aquisição de conhecimentos de base; e formação continuada ou permanente abrange a formação após a aquisição de base, com caráter de aperfeiçoamento ao longo de toda a vida profissional.
Para Imbernon (1994), do ponto de vista “formal” a formação inicial refere-se à aquisição dos conhecimento de base. Certamente, o processo de formação do bibliotecário não começa na universidade, mas na infância, no seio da familia.  É na primeira infância, que ele tem contato com a produção das primeiras palavras, começa a decodificar os simbolos e signos e a compreender o mundo, a ter contato com valores e atitudes passadas pelos pais e pessoas próximas. Ao longo da educação básica esse processo se consolida. Os  profissionais da informação que tiveram acesso ao ensino de qualidade saem na frente.  Infelizmente poucos tiveram esse privilégio, considerando o cenário educacional brasileiro e o desempenho do Brasil nas avaliações  como o PISA. A realidade mostra que os estudantes chegam aos bancos universitários com deficiências graves relacionadas à escrita e à leitura, procedimentos fundamentais para o aprender a aprender ao longo da vida.
Cabe aos docentes dos cursos de graduação lidar com questões de aprendizagem que  antecedem à vida universitária para que o profissionais da informação possam atuar profissionalmente. Não há como correr disso. Os professores precisam ajudar os estudantes a produzir textos academicos e a interpretar bem diversos tipos de textos para que eles possam aprender de maneira eficaz e eficiente.
Outro ponto que influencia a formação dos bibliotecários é o tipo de ensino-aprendizagem  a que são submetidos. Os professores dos cursos de biblioteconomia e areas afins não cursam licenciatura e, muitas vezes, desconhecem estratégias diversificadas de ensino-aprendizagem. Evidentemente, o problema ocorre também com docentes de outras areas.  Como exemplo, podemos citar os cursos de administração, medicina, engenharias, dentre outros. Os docentes tentam contornar os  problemas mediante a experiência cotidiana e aos estudos, atuando como autodidatas nas questões pedagógicas. Alguns autores, por exemplo, Gimeno e Perez Gómez, classificam esse tipo de formação de professores como Perspectiva acadêmica, em que o ensino é concebido com a função de transmitir informações. O professor é um especialista, e sua formação se vincula, essencialmente, ao domínio do conteúdo da disciplina que deve transmitir.
Ao contrário dessa perspectiva, os docentes deveriam ter formação voltada para a Perspectiva de reflexão na prática para a reconstrução social, que supera a concepção da prática reflexiva, embora ambas convirjam em muitos aspectos. Segundo essa visão, o professor é um intelectual orgânico (termo cunhado por Gramsci), com conhecimentos profundos da realidade em que vive e com capacidade para transformá-la. Isso significa que além dos diversos desafios do cotidiano, os professores universitários precisam ter boa formação psicopedagógica, conhecimento sobre os assuntos que lecionam, conhecimentos culturais e experiência de ensino-aprendizagem.
Esses dois pontos, dentre outros, revelam a complexidade e os inúmeros  fatores que influenciam na formação profissional dos bibliotecários.  Diante desse cenário, alguns aprendizes podem se sentir desanimados, acreditando que não há muito que fazer. Contudo, ao contrário disso,  devem ter em mente que o sucesso profissional depende em grande parte do proprio esoforço e responsabilidade. Isso porque nenhuma universidade conseguirá proporcionar o desenvolvimento pleno das competências necessárias ao ótimo desempenho profissional. Por outro lado, reconhece-se que as experiências sem as teorias para iluminá-las tampouco podem ajudar. A aprendizagem depende em primeiro lugar da disposição em aprender e da curiosidade dos aprendizes, o que requer motivação pessoal. São sentimentos e atitudes que emergem de dentro para fora. Daí, os obstáculos passam a ser desafios a serem vencidos.
A Unesco preconiza que a formação deve ocorrer ao longo da vida. No mundo contemporâneo em que tudo muda drasticamente e com rapidez, aprender é o grande "carma" humano. Porem, é importante ressaltar que o conhecimento só tem valor, quando usado em prol de uma sociedade mais igualitária, fraterna, solidária e sustentável.
             Reconhece-se, então, a importância do ensino de qualidade, mas também o papel crucial do aprendiz ao se responsabilizar pelo próprio desenvolvimento pessoal e profissional.  Cabe perguntar, quais as competências que o profissional da informação deve desenvolver na sociedade contemporânea? Em primeiro lugar, destaca-se que conhecimento e competências são conceitos diferentes. Um médico pode ter muito conhecimento teórico sobre as doenças e não obter sucesso em seus diagnósticos. Isso mostra que a prática e a experiência são importantes. Ser competente é conjugar a teoria, a prática e reflexão sobre a prática. Competência remete à ideia de funcionalidade e aplicação do conhecimento. Por exemplo, conhecer bem os sistemas de classificação e as normas de catalogação não são suficientes para um bibliotecário ser considerado competente. Porém, ele  demonstra competencia ao usar o conhecimento para projetar sistemas que facilitem o acesso e a recuperação da informação dos usuários. Portanto, competência envolve conhecimento, atitudes e o saber fazer iluminados pela teoria e reflexão sobre a prática.
Os profissionais da informação precisam desenvolver quatro competências básicas, quais sejam: técnica, pedagógica, social e gerencial. Historicamente, os núcleos técnico e gerencial estão no cerne da formação desses profissionais. Contudo, mais do que nunca, a visão transdisciplinar é necessária à atuação do bom profissional. O profissional da informação deve saber que o acesso à informação é o primeiro passo para aquisição do conhecimento. Mais que isso, é necessário ensinar os usuários a buscar informações e transformá-las em conhecimento. Isso requer desenvolver competências pedagógicas e sociais.  Os bibliotecários precisam ter noções de como ocorre o processo de ensino-aprendizagem e os fatores que o influenciam, por exemplo.
Isso é especialmente importante na sociedade contemporânea. E necessário  relembrar a famosa frase do prêmio Nobel de economia, Herbert Simon, ao destacar que o significado do saber mudou, pois mais importante do que memorizar, é saber buscar e usar a informação!
             Em suma, destaca-se que a motivação para a formação continuada deve emergir do próprio aprendiz que precisa desenvolver competências para lidar com as questões tecnicas, gerenciais, pedagogicas e sociais, que  compõem o universo profissional dos bibiotecarios. Evidentemente, isso não tira a responsabilidade das universidades oferecerem ensino-aprendizagem de qualidade, o que requer, por sua vez, investir na formação específica dos professores.

Como citar:  GASQUE, Kelley Cristine Gonçalves Dias. Profissionais da informação e as competências necessárias a atuação profissional no século XXI. Disponível em: http://kelleycristinegasque.blogspot.com/. Acesso em: XX mes. 2011.

2 comentários:

  1. Kelley,

    Sempre bom ler seus artigos, sempre com opiniões e considerações importantíssimas para nós que trabalhamos com informação.
    Forte abraço.

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