domingo, 1 de maio de 2011

Como escrever texto científico – Parte I

A vida acadêmica e profissional, quase sempre, exige a produção de textos científicos. Às vezes, surgem muitas ideias para escrever, mas entre a elaboração mental e a produção textual parece haver um grande abismo. As palavras somem da memória, as frases parecem desarticuladas e as idéias desorganizadas. A sensação de impotência mexe com a auto-estima. Escrever bem parece uma competência impossível de se desenvolver. Porém, felizmente existem estratégias que podem ajudar na construção do texto. A regra básica consiste em estruturá-lo em introdução, desenvolvimento e conclusão.

Muitos estudiosos afirmam que bons leitores são bons produtores de texto. Essa afirmativa não é totalmente verdadeira. Ler e escrever exigem competências diferenciadas. A leitura propicia idéias, novos pontos de vistas e visão crítica ao leitor, isto é, oferece os ingredientes para confecção do bolo. Por sua vez, a escrita requer organização e representação das ideias, de maneira lógica e coerente. Ou seja, os ingredientes precisam ser colocados na medida certa, com procedimentos adequados. A Beleza do bolo está na elegância do estilo do autor.

Para escrever bem é necessário ler para se ter ideias e praticar a escrita. Inicialmente, requer identificar o assunto principal e os conceitos relacionados. Em seguida, esboçar um esquema do que será tratado e em que ordem. Isso porque um erro bastante comum é abordar os assuntos secundários em vários parágrafos, isto é, com repetição freqüente do assunto, sem segmentar o texto.

A regra básica no que concerne à organização dos conteúdos é a construção textual em introdução, desenvolvimento e conclusão. Apesar da aprendizagem da técnica se iniciar na educação básica, nem sempre o texto é produzido considerando tal estrutura.  A primeira parte do texto é a introdução, cuja função é apresentar ao leitor o assunto a ser abordado e a sua importância, bem como os objetivos do autor em relação ao texto.  Em geral,  pela introdução o leitor avaliará a relevância do assunto e se o mesmo é oportuno para as suas necessidades de informação. Por isso, torna-se crucial dar uma visão geral do texto para instigar a curiosidade do leitor a continuar a leitura. Em casos de pesquisas, é importante relatar brevemente a metodologia utilizada. O tamanho da introdução depende do gênero textual. Em dissertações e teses, as introduções são mais extensas. No artigo científico, de aproximadamente 15 paginas, a introdução deve abranger por volta de 1 página. Em textos pequenos, de uma a duas paginas, um parágrafo é suficiente.  Esses são alguns parâmetros  (não rígidos!) que podem ajudar os estudantes.

Na fase de “desenvolvimento” do texto são tratados os conceitos apresentados na introdução.  O assunto é organizado em vários tópicos e subtópicos com os respectivos títulos e subtítulos, se necessário. Entre um tópico e outro é desejável finalizar o assunto relacionando-o com o próximo conteúdo a ser tratado. Deve-se construir “pontes” que integrem os vários tópicos de maneira lógica para que os leitores percebam o fio condutor, como explicam Platão e Fiorin:

“Ao primeiro contato com um texto qualquer, por mais simples que ele pareça, normalmente o leitor se defronta com a dificuldade de encontrar unidade por trás de tantos significados que ocorrem na sua superfície (...). Mas, quando se trata de um bom texto, por trás do aparente caos há ordem. Quando após varias leituras, encontra-se o fio condutor, a primeira impressão de desorganização cede lugar à percepção de que o texto tem harmonia e coerência (...). A partir da observação dos dados concretos da superfície, pode se chegar à compreensão de significados mais abstratos, que dão unidade e organização ao texto”. (1997, p.35).

 No desenvolvimento do texto, os conceitos principais de cada tópico devem ser bem definidos. Uma dica importante é iniciar pelo sentido etimológico do conceito e pela análise das citações, preferencialmente, indireta de dois ou mais autores que pesquisam sobre o assunto. Essa estratégia é conhecida como “argumento de autoridade”, visto que um texto ganha mais credibilidade, quando se sustenta em outros textos que tratam do mesmo tema.

Somente isso não é suficiente para tornar o texto convincente. Existem outros recursos de argumentação que devem ser usados, quais sejam, a unidade textual, estabelecimento de correlações lógicas entre as partes, uso de exemplos concretos e adequados e a refutação de argumentos contrários. A unidade textual refere-se ao foco no assunto, evitando dispersões e informações desencontradas.  A variedade é bem-vinda desde que desenvolvida e concluída dentro do tema central. As correlações lógicas referem-se à articulação entre as partes relacionando as causas e efeitos das proposições, que devem ser confirmadas com exemplos concretos que revelem os dados da realidade observável. Por fim, a refutação de argumentos contrários é o procedimento de apresentar as opiniões opostas às defendidas, expondo com clareza as objeções conhecidas e os argumentos que as refutam. (PLATÃO;FIORIN, 1997).

Um ponto importante a ressaltar trata da questão do plágio. Qualquer ideia retirada de outro texto/autor precisa ser citada. Isso vale para citação literal - transcrição da forma como consta no texto e, também, para as paráfrases ou citações indiretas -  transcrições similares ao texto. Portanto, o plágio se refere à cópia da ideia sem citação da autoria! Plágio é crime!

A conclusão é o fechamento do texto com chave de ouro. Para isso, deve-se recapitular o assunto e apresentar dados relacionados com os objetivos propostos e com as questões levantadas, mostrando de forma sucinta os resultados encontrados. Um erro comum a ser evitado na conclusão é trazer conceitos e assuntos novos que não constam no corpo do trabalho. Ao contrário disso, a conclusão requer precisão para sintetizar os aspectos mais importantes do estudo, bem como mostrar ao leitor as limitações encontradas no estudo, sugerindo novos temas de pesquisas.

 Após finalizar o texto, deixe-o “de molho” por algumas horas ou dias para depois lê-lo novamente. Isso ajuda a ter outra visão do texto. Leia-o mais duas ou três vezes para avaliar se ele representa as suas ideias de maneira clara e objetiva. Avalie se a introdução propicia uma visão geral ao leitor. Observe se os tópicos estão bem articulados e se a conclusão está adequada. Escrever é reescrever tantas vezes quanto forem necessárias para o texto ficar bom.

Enfim, escrever bem requer leituras - fonte de inspiração das idéias - visão crítica dedicação e persistência. Dessa maneira, de acordo com Mario de Andrade, “Você irá escrevendo, irá escrevendo, se aperfeiçoando, progredindo, progredindo aos poucos: um belo dia (se você aguentar o tranco) os outros percebem que existe um grande escritor”.

 Sugere-se a leitura de dois livros:
BOAVENTURA, Edivaldo. Como ordenar as idéias. São Paulo: Ática, 2002.
FIORIN, Jose Luiz; PLATAO. Para entender o texto: leitura e redação. 13 ed. São Paulo: Ática, 1997.

P.s: Na parte 2, serão abordadas mais dicas  sobre o texto científico.

                                                        Principais tópicos do texto cientifico
 

5 comentários:

  1. Olá professora,
    Obrigado pelo post.
    Para nós neófitos pesquisadores foi mais que oportuno. ;D
    e parabéns pelo blog.

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  2. Obrigada, Frederico. No proximo post, a ideia é aprofundar mais no assunto. O importante é que o leitor consiga tirar alguma coisa boa do texto. Abraços,

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  3. Kelley, obrigada por compartilhar suas postagens comigo, que nem sou sua aluna. Tenho aprendido muito com a leituras. Obrigada e sucesso!

    Gislaine.

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